3 de fevereiro de 2011

Interlúdio

As aulas começaram ontem; estranhamente, não para mim. Não acordo, mas sei que às sete da manhã os alunos passam conversando indo para o colégio ao final da rua. Às onze e meia eles voltam, menos tímidos, falando alto, escutando todo tipo de música em seus celulares, cadernos ainda novos nas mãos. Vou ao cinema à noite e vejo procurando seus lugares pessoas que saem do trabalho, alunos que fugiram da aula. Encontro mochilas nas costas de outros, livros, papelarias cheias. Não é como se eu estivesse de férias antes de todos, não é aquela sensação de vantagem. Sinto-me fora do tempo, rodando a engrenagem do relógio de forma anormal, sem direção. Onde piso pode ser chão, teto, parede, janela... Espero, apenas espero por resultados, sem saber onde vou morar, onde vou estudar (e se vou mesmo estudar o que pretendo, por mais que goste de acreditar que sim). Não sei qual será minha realidade e quando vai começar. É que toda a vida como conheço acabou e estou num intervalo entre um ato e outro, interlúdio. Improviso. Tento aproveitar, sei que é pra isso que este tempo está aqui, mas não deixo de ter vontade de roer as unhas, devorar barras e barras do meu chocolate preferido. 
Até ontem a coisa mais objetiva que tinha feito com relação ao meu futuro foi marcar no calendário todas as datas importantes de resultados e matrículas. Hoje comprei algumas coisas que precisarei levar para minha nova casa. Dá para sentir um pouco mais perto essa realidade, quase batendo a porta, rondando meu jardim. Posso chamá-la, mas sei que ela só virá a seu tempo. E sabe essa sensação de ter o controle sobre o que acontece? Eu não a tenho, não agora. Estou num tempo de espera...