29 de novembro de 2010

Soneto e Selos

Lendo alguns textos para o vestibular me deparei com este poema que há tanto já havia me encantado.

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento


Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure



Vinicius de Moraes



Quanto aos selos, devia ter postado há muito tempo, mesmo. São da Vicky, me desculpe pela demora hein, mas eu não esqueci, só estava meio corrido para postar. Na verdade, acho que agora só vai piorar com as provas, mas o que eu queria mesmo era agradecer e fazer as indicações.





Respondendo às perguntas do selo:
1-Quem é que nunca vais conseguir esquecer?

Tem muitas pessoas que passaram, passam e com certeza passarão na minha vida e deixaram sua marca. Nessa resposta dá vontade de não deixar ninguém de fora, mas se for pra escolher alguém que me ensinou muitas lições, das mais diversas maneiras, esse alguém é minha avó. Ela foi como uma mãe pra mim em muitos momentos e me proporcionou experiências e aprendizados que levarei comigo pra sempre.

2- Alguém comanda a navegação da tua vida?

Bom, isso pode parecer meio egocêntrico, mas acho que nós somos os comandantes das nossas próprias vidas, de acordo com nossas escolhas e crenças.

3- Oferecer o blog à 3 pessoas ou mais.

www.pensoexistoeporissoestouaqui.blogspot.com
www.nossomundinhoadolescente.blogspot.com
www.uivosdoalem.blogspot.com
www.aportasecreta.blogspot.com
www.isabelamar.blogspot.com
www.cheiodenovehoras.blogspot.com


Beijo a todos e até a próxima, boa semana!

18 de novembro de 2010

Toque o seu limite

Esta noite as lágrimas se misturaram as gotas de chuva. Assistí Senna, o filme. Não me lembro de alguma vez ter me emocionado tanto assistindo a um filme...
Me sentí transportado para a minha infancia, acho que até meu coração batia de forma diferente. A voz de Ayrton se misturava ao cheiro de café e a voz do meu pai, tudo isso me acompanhava nas manhãs de sábados e domingos quando eu tinha apenas 5, 6 anos de idade. Lembro perfeitamente! Era meu passatempo favorito. Passava as semanas aguardando os fins de semana, brincando com meus carrinhos, projetando as corridas, andando pela casa com o capacete velho dos tempos de motociclista do meu pai. Senna era o meu carrinho branco e vermelho, que largava em ultimo e chegava em primeiro em todas as corridas. Suas fotos, as cores do Brasil, os S pintados com lapis de cor nas paredes do quarto...
Durante o filme eu me lembrava de mais e mais coisas, me emocionava em cada passagem, cada entrevista, cada depoimento e cada trecho de corrida.
Falando sobre o filme, acredito que não seja nenhuma obra prima do cinema, nem o maior acervo de imagens do Senna. Mas a abordagem do documentário não se resume ao Herói brasileiro, ou ao melhor piloto da história. Senna é um filme sobre a VIDA.

Ayrton nunca se importou em ser campeão, bi, ou tri-campeão mundial... Ele corria porque amava o que fazia. Tinha total noção dos riscos que corria, sabia que representava um país inteiro, sabia pilotar. Apesar disso, o motivo pelo qual pilotava de forma fantástica era a superação de seus limites. Como ele mesmo costumava dizer:
"O ser humano possui limites, quando voce toca esse limite, quando voce vive esse limite, voce é capaz de realizar absolutamente qualquer coisa."
Todos que o viram correr, sabiam que ele estava em paz quando estava alí dentro do carro e não precisava de dinheiro ou fama para continuar a fazer aquilo. Senna enfrentou muitas dificuldades e superou mais e mais limites.
Nada o teria feito parar. Ele simplesmente não podia. Pilotar era a sua vida e ele deixaria de viver quando deixasse de pilotar.
  
Quando Senna morreu em Maio de 94, uma parte de mim morreu junto com ele. Minhas notas cairam, meu interesse por brincadeiras com outros colegas, a temporada de fórmula 1, meu carrinho vermelho e branco... Eu não conseguia entender... Para mim, e não só para mim, Senna era imortal. 
Algumas conversas e uns novos passatempos me fizeram acostumar com a idéia de que o mundo continuaria a existir, com ou sem Senna.
Só pude compreender a complexidade de algumas frases do meu pai depois de todos esses anos. Ele me disse no dia que me contou que Senna não correria mais nenhum GP.
"Filho, quando alguém faz o que gosta com o máximo de dedicação e o máximo de energia naquele único propósito, ele se torna próximo da perfeição. Senna fazia o que fazia, porque tinha momentos de perfeição. Nesses momentos, ele conseguia sentir Deus a sua volta e dentro dele. Chegou a hora em que ele precisa estar mais próximo de Deus, para ser ainda mais perfeito."

Após essa frase, meu pai terminou:
"Existe um meio de voce encontrar Senna novamente. Encontre algo que te faça feliz e dedique-se a isso o máximo que voce conseguir. Entregue-se. Enfrente o que for necessário, atinja a perfeição. Nesse momento, vai encontrar com ele e Deus. Acredito até que sejam amigos..."

Ainda escuto os gritos de Senna e do meu pai juntos no GP Brasil de 91 quando fecho os olhos. Meus filhos vão escutar também. Meus netos. Sempre saberão que existiu um herói, um piloto e um ser humano que em certos momentos da vida atingiu a perfeição. 

8 de novembro de 2010

Budapeste. Novembro daquele mesmo ano. A neve caía não muito intensa, mesmo assim o vento frio parecia ter a intenção de cortar nossa pele. Sempre caminhávamos um pouco pelas ruas próximas e voltávamos para nos refugiar no bar do hotel. Quente, ali era bem quente e aconchegante. As bebidas eram servidas no pequeno balcão e os hóspedes podiam se acomodar nas baquetas ou nos grandes sofás de couro.
Optei por um desses últimos e comecei a olhar fotos que havíamos tirado em nossa pequena excursão da manhã. Os rapazes ficaram pelo balcão conversando com Jeremy, o garçom. Ele era sueco e parecia que estava no país de forma ilegal, sendo que isso de alguma forma chamou a atenção de J., principalmente.
Depois de alguns minutos, o pianista veio com uma dose generosa de chocolate quente para mim e conhaque para ele.
- Desculpe, garota, mas não pode beber em serviço.
-Claro, é verdade. E voce está de férias, então?
Ele fingiu fechar a cara:
- Me pegou, hein?
Sorri, apenas, em resposta, e me reconfortei no meu chocolate quente. Foi um alívio ter minhas mãos em contato com a porcelana quente, já que elas tremiam contra o metal frio da câmera.
- Apesar da temperatura, a paisagem é muito bonita, não acha? - ele perguntou recostando-se na poltrona à minha esquerda. Parecia anos mais velho.
- Com certeza, é tudo muito bonito, e as construções aqui são magníficas. Aliás, temos visitado vários lugares maravilhosos. Tenho aproveitado tanto nossas viagens.
Pausa.
- Não pensava que chegaria aqui, sabe? Turnês, todas essas viagens, multidões, programas de rádio e tv... fama. Parece que era ontem, eu ainda um menino de cidade pequena, disputando com meu irmão a atenção em casa..  A música sempre foi minha paixão, e embora quisesse compartilhá-la, ela era antes de tudo meu refúgio. Ainda é, mas não é fácil quando todos querem saber cada vírgula do que voce pensa, entende?
"De qualquer maneira, é nessas horas, quando eu olho onde estou, que eu sinto falta de algumas coisas de casa, de uma vida menos nômade."
Tentei me colocar no lugar dele. Era possível entender aqueles sentimentos, talvez algum dia fosse a minha vez de senti-los. Depois de alguns meses de viagem, quem sabe. No momento, aquela "vida nômade", como ele havia entitulado, era encantadora para mim e vários aspectos e viera na hora certa para me salvar da minha antiga condição.
Percebi, então, com o que ele veio a dizer, qual era o objetivo da conversa.
- Eu digo isso porque, além de ser bom ter alguém compreensiva como voce para poder conversar sobre isso, talvez voce queira voltar para casa neste Natal. Talvez você queira estar com sua mãe depois do que aconteceu. Ou com o resto da família também. Talvez com algum coração partido que você tenha deixado para trás quando foi embora...
A última frase foi dita com um tom próximo da vergonha e alguma curiosidade embutida. Minha resposta foi igualmente  sem graça e meu estado era de total perplexidade. Será que ele ainda não havia percebido? Todos os meus esforços eram para ele, todos os meus olhares e cuidados. Eu queria fugir disso de certa forma, mas ele estava sempre presente, quando não era fisicamente, estava em minha mente. Havia, então, outra parte, mais forte, que não queria se livrar desse sentimento por ele. 
De qualquer maneira, respondi em voz alta a síntese constrangida de meus pensamentos:
- Não existe coração partido, e mesmo que houvesse, já se passou muito tempo.
- Sim, faz um bom tempo (..). Mas, bem, se você tem passe livre para voltar para casa depois que passarmos pela Suíça.
-Obrigada, mas estou a trabalho, lembra? Não posso deixar vocês na mão em uma hora dessas, vamos ter fotos ótimas para a divulgação.
-Eu sei garota, mas... às vezes precisamos dar um tempo para cuidar do que é pessoal.
-Seu eu for, aviso vocês.
-Certo.
E subiu para seu quarto. Nos reencontramos mais tarde, na hora do almoço.