21 de janeiro de 2012

Formados: transformados

Relatos tc são séries de textos que escrevi sobre uma pequena visita a minha cidade natal. Enfoque maior em lembranças, parentes, conhecidos... É claro que aconteceu muito mais. Mas me vejo obrigada a interromper a sequência de textos. Os últimos dias têm sido especiais e eu tenho que compartilhar isso. 

Com certeza todo o tempo que uma pessoa passa na faculdade muda seu jeito de ver a vida e de agir. Acho que em cinco anos e meio dá para viver muitas experiências, mesmo que você não se abra para nenhuma. Elas vêm até você. E eu falo aqui de uma pessoa muito especial para mim. Nos conhecemos há menos de um ano, mas isso já foi o suficiente para criarmos grande amizade, confiança e cumplicidade. Ela é uma das poucas pessoas com quem eu me senti à vontade para conversar sobre os meus problemas, afinal, não mostro meus defeitos para qualquer um. Inúmeros almoços juntas, ela com seu jeito diferente de pensar, que faz muito sentido, mas é tão difícil de colocar em prática. O mais importante, porém, foram os momentos de coisas boas que compartilhamos: experiências que ela me passou, risos com bobagens que só Freud entende, blogs, colegas de quarto, acusações contra a cidade universitária... Nossas coisas em comum, as frases engraçadas... Ela tem um humor único. E quando nos revemos depois de semanas, pensei: "Vou sentir falta disso."
A faculdade para mim está atrelada à imagem dela. Vou ter que fazer essa separação aos poucos, para estar preparada para quando o verdadeiro fim chegar. Quando a separação for além do período de férias.
Depois de formados, os alunos estão transformados. Prontos para mudar também a sociedade em que vivem de alguma forma, agora de maneira profissional. Como novas pessoas, que se separam para trilhar cada um o seu caminho. E é incrível como as coisas sempre se apresentam como um ciclo, pelo menos na psicologia noto muito isso. Ontem, a paraninfa disse o que aprendemos no primeiro dia de aula, praticamente: devemos ser fiéis a nós mesmos, às nossas crenças, ao que está em nossos corações. E assim, o ciclo se encerra. Chapéus para o alto, agora estão transformados. Não são mais graduandos. São psicólogos.

20 de janeiro de 2012

Almoço (relatos tc)

Uma das coisas mais impressionantes e maravilhosas é que havia sol. Há tanto que eu não via um sol radiante daqueles. Acordei mais tarde do que devia e seguimos nosso trajeto pela rua da minha última escola. As árvores brilhavam de um jeito que só acontece naquela cidade, aquele jeito familiar que eu encarei de novo com carinho.
Deixei claro que não queria colocar os olhos sobre a antiga casa. Quero manter intacta na memória sua imagem, e sei que hoje ela passa por reformas. Quero manter no coração a sensação de lar, e não de uma perda. Quero manter as chapas que cobriam a garagem, a capela que minha avó mandou fazer, a grama verde com a Lila correndo sobre ela. Quero manter os mesmos móveis no lugar, o cheiro da minha casa. A visão que eu tinha olhando de dentro para fora, e não de fora para dentro, querendo entrar e sabendo só traria mais saudade. Quero guardar a visão que eu tinha ao subir na mureta e olhar a rua de cima, e só.
Minha mãe concordou comigo. E fiquei feliz por isso, por ela também escolher o menos doloroso.
E foi com ironia que o rio não invadiu as ruas do bairro este ano, nem com nível alto estava. Notei que andar por sobre aqueles ladrilhos era diferente de andar por qualquer outro lugar da cidade. Ali, parecia que eu nunca tinha saído dali. Era quase como voltar da escola naqueles tempos em que tinha companhia até a rua de casa. E ao virar a esquina, esperava sentir um choque, arrepio, vontade de chorar, esperava reações. Elas não vieram. Pelo contrário, só foi maior a certeza de que nunca deixei de morar naquela rua larga e acolhedora. 
Enquanto minha mãe cortava o cabelo no salão de costume, fui até a padaria improvisar um café da manhã. A dona sempre me pareceu louca, e isso também não mudou. Fiquei feliz em ver uma velha casa reformada e habitada. Ela costumava ser realmente largada, com sua grama muito alta e grandes ferramentas enferrujadas penduradas na janela da frente, a grade azul anil suja. Agora é de uma cor que gosto muito, um tom que aparece Nescau, e aparenta ser muito limpa. Fiquei realmente feliz pela renovação, mesmo sem saber quem mora lá agora. Acho que, para mim, foi como uma representação material de que a renovação é possível.
Encontramos pessoas conhecidas no salão. Uma antiga professora passou rapidamente. Esperava mais euforia ao me ver, como antigamente. Depois me lembrei que não fiz nada de grandioso, ainda, para merecer um sorriso largo e várias perguntas. Faculdade não conta como "ato heróico", já que não fiz a escolha que eles consideravam a melhor. Mas não me deixei abalar, tenho no coração paciência, meu momento ainda vai chegar, ergo tijolos a cada dia para isso.
Tocamos a campanhia e, a princípio, ela não nos reconheceu. Minha "avó postiça". A visita ali também foi breve, mas torci para as lágrimas não virem à tona. Alguém fazia o almoço enquanto conversávamos na sala. Uma cadela de pelúcia que já foi minha estava no sofá oposto ao nosso, em demonstração de carinho, e nossa anfitriã em sua cadeira do papai cor creme. Contamos do réveillon, naves espaciais e empolgação.  Ela perguntou o inevitável e me vi embaraçada ao falar do assunto. Parece que a ferida ainda não está totalmente cicatrizada. Ela parecia já saber que não daria certo de qualquer jeito. 
Depois, seguimos para o almoço. O convite inesperado, que aceitamos, para a nossa própria surpresa. Ovos fritos, comida caseira, simples, mas gostosa, panelas de barro, muita salada, fartura. Comida mineira. Senti-me visitante de minha própria terra. E conversamos de várias coisas, tão à vontade naquela casa que nunca tínhamos adentrado tão profundamente. De presente, um livro de receitas, de encanto, um bebê, Júlia. Acho que nunca gostei tanto de uma criança. O que mais admirei foi não haver nenhum choro, apenas vontade de explorar, aprender. Pude ver que compreendi mais de algumas aulas do que imaginava.
Ali parecia um mundo a parte, de aconchego, conversas amigáveis, amor fraterno, conforto e simplicidade, alegria. Foi nossa visita mais longa. Até que atravessamos o portão, trocamos mais algumas palavras e demos uma última olhada para nossa rua, na direção da casa que um dia foi nosso lar, mas sem nunca enxergá-la de frente. Eu a enxergo com os olhos do coração nas lembranças, e não é preciso estar a poucos metros de distância para isso.

19 de janeiro de 2012

Visita (relatos tc)


Quando pequena, aquela sala me parecia tão menor. E do que eu mais me lembro são dos potes com doce de leite em cubinhos, cocadas brancas e bolachinhas. Eram tão gostosos, as cocadas especialmente misteriosas para mim. Era o que eu mais gostava ali, já que minha visita não era obrigatória, pelo menos por nenhum laço sanguíneo.
Mas, como não podia deixar de ser, aquela mesma estante está bem menor do que eu me lembrava e deve ter as mesmas fotos de antes, pois nelas os netos continuam crianças. Não estou ali, claro. Não deveria estar.
A casa continua com o mesmo portãozinho baixo. O contraste do antigamente com os dias de hoje, confiança e roubos. Lá dentro, as paredes pintadas há pouco tentam disfarçar a idade dos tijolos como maquiagem. O amarelo claro e o azul bebê das janelas de madeira.
A televisão com legendas para o ouvido surdo. Ela está sentada ao lado da mesa de jantar com o andador logo à frente. Uma miudeza que chega a ser encantadora envolta em rosa. Meiga. Os inúmeros cabelos brancos brilhantes. Já foram mais volumosos, mas quando se tem mais de 90 anos, algumas coisas mudam. E nesse momento não parece importar se ela foi boa sogra, mãe, esposa, ou o que quer que seja. Agora, ela não parece má. Ela continua perspicaz sabendo os números de telefone de cor e pena e afeição são praticamente meus únicos sentimentos.
(...) Observei muito mais do que falei, juntando o atual com minhas memórias embaçadas. A conversa durou menos do que eu esperava. Saímos para a ruazinha tranquila e escura. Um bom lugar no centro para se morar. Provavelmente nunca mais entrarei naquela casa.

9 de janeiro de 2012

Casório?!

Ao contrário do ano que se foi, este já começou bem: terminei de ler meu primeiro livro, o primeiro de muitos, espero. Já fazia um tempo que queria ler algo descontraído e casual, então Marian Keyes seria perfeito para isso. Optei por Casório?!, em parte, por causa da questão da cartomante. Mas vamos aos fatos.
Uma velhinha cartomante que mora num lugar sinistro vira para Lucy e diz que ela vai casar em um ano. Lucy não é do tipo que tem sorte no amor. Na verdade, ela tem um gosto que eu desaprovo bastante: caras desleixados, que bebem até cair, sem emprego, sempre no perrengue, drogados... Eles acabam causando decepção mais cedo ou mais tarde para ela. Parece bem impossível que ela se case num prazo tão curto. Até que o livro apresenta o amigo (sempre tem o amigo), Daniel. Lindo, sexy, rico, educado, mulherengo. Aquele melhor amigo que a gente já fica na esperança: vai ser ele. Porém, contudo, todavia, aparece Gus para "estragar" tudo. Bate aquele medo de Lucy acabar ficando com ele, já que ela cria fantasias de casamento depois da previsão da cartomante. Lucy não tem nenhum amor próprio e aguenta poucas e boas de Gus, que some e reaparece sem muitas explicações. Aliás, todas as suas conversas são bem mirabolantes.
Uma das minhas partes favoritas é quando Lucy finalmente cria coragem e diz: VAI SE FODER. Essa é uma passagem de grande estilo no livro. Existe Adrian, o cara da locadora, Jed do trabalho (apesar de ele ter mais jeito de gay do que de bom partido para Lucy)... E também tem a Megan, sempre desconfiei quando ela vinha com papos de que o Gus não era flor que se cheire. Mas esse é outro caso. Ah, é importante dizer que é um livro para maiores de 18 anos, então...
Apesar de divertido, não acho que seja o melhor livro da autora. Prefiro Um Bestseller pra Chamar de Meu, pois a história se divide entre três personagens principais, fazendo com que a história não fique muito cansativa sob apenas um ponto de vista. Pode ser que eu tenha cansado um pouco de alguns acontecimentos do livro por não concordar muito com o jeito de ser de Lucy. Mas é um bom livro, com um humor leve, muitas festas, alguns palavrões e desentendimentos familiares. Encontros e desencontros amorosos. Torci pelo Daniel até o fim, e aí... Não vou contar como termina o livro. Só não consigo deixar de falar que algumas coisas ficam suspensas...
Enfim, eu indico Casório?!, de Marian Keyes.

6 de janeiro de 2012

Reis Magos

Para ler ouvindo: Sweet and Low (Acoustic)


E então a chuva resolveu voltar a cair nesse Dia de Reis. Esse dia sempre fica marcado para mim. Lembro dele de outros tempos, céu azul, inocência de criança dentro de casa, retirando conformada os enfeites de Natal. Olhando para o sol brilhando lá fora, ainda pela manhã. Aquela era a data para a retirada das luzes, a volta à vida banal.
Para mim o natal nunca teve uma conotação religiosa em primeiro lugar. Acho que para nenhuma criança é assim. Só que eu mantive essa ideia de natal capitalista, colorido, divertido, uma data de esperança e união, e várias outras coisas que não estão exatamente ligadas ao nascimento de Jesus. Não que eu não seja católica, minha religião é uma coisa a ser definida ainda. Mas então, chega o dia 6. Sempre teve um tom místico para mim, e aqui estamos falando de uma data, para mim, realmente nem um pouco ligada à religião. Reis Magos. O que esperar que uma criança pense? Mago... Parece tão bruxo, tão mágico, tão fantasioso. Ondas de panos verde-esmeralda, rosa-queimado e vermelho, tudo misturado com dourado, cores ciganas e noite que cheira incenso.
Pesquisando mais a fundo, descobre-se que não se sabe ao certo se eram reis, ou príncipes, ou mesmo magos. Não acho que se tratando de catolicismo, eles colocariam mágica no meio. Mas por que esse título pegou tanto? Reis Magos. É meio confuso para mim. Mas quando criança eu não tinha acesso a esse tipo de lógica. Para mim, toda essa miscelânea de histórias fazia sentido. Não importa se é religião e mágica não parecem "apropriados" juntos, eu cresci acostumada a essas misturas de crenças. E por me parecer familiar desde o começo, continua sendo agora, um dia um tanto místico. Com suas folias que passam de casa em casa, roupas coloridas, fartura à mesa para aqueles músicos com as fitas coloridas amarradas aos pandeiros. Pulos altos no ar, uma roda, em que todos são iguais e não há início nem fim. Eu me lembro de uma festa assim que minha avó ofereceu à uma folia de reis uma vez... Essa é uma data que marca o último dia de luzes na cidade e nas casas. Pelo menos as luzes do coração não precisam de data para serem acesas nem apagadas...

4 de janeiro de 2012

Lila e Meme

Ontem foi aniversário da Lila. Já faz dez anos. Ela não tem mais a energia de antes, nem o jardim para correr, mas ainda tem nos olhos aquele brilho de criança (filhote), aquela vontade sapeca de brincar. A curiosidade quando sai para passear, o carinho para retribuir. Eu a amo incondicionalmente. Acho que se ela falasse, talvez ela apontasse como eu sou egoísta, pois enquanto ela estava sempre lá para mim, eu muitas vezes não tinha tempo para ela. Mas eu a amaria mesmo assim por sua doçura, meiguice, perdão de verdade por minha ausência. Eu a amaria mesmo ela me dizendo as verdades que eu não gostaria de ouvir. Ela, meu porto de amor seguro, puro, nunca me trairia ou me trocaria por alguém. E eu nunca faria nada disso também. Estou sempre lá quando ela precisar. E tenho procurado estar mesmo quando ela não precisa também. Temos uma história, crescemos juntas. Ela sempre morará no meu coração. No momento, ela acaba de chegar do banho, cheirosíssima.

Ganhei um meme da Vicky. É com grande vergonha que admito: em 2011 não consegui ler nenhum livro por completo (tirando os da faculdade). Até nisso o ano velho foi uma desgraça! Então vou completar meus favoritos me baseando no início de me minhas leituras, e me desculpe pela decepção. Este ano já está sendo diferente, prometo.


Livro favorito: Casório?! (Maryan Keyes)

Casal favorito: Eddard e Catelyn Stark (A Guerra dos Tronos - As Crônicas de Gelo e Fogo, George R. R. Martin)

Heroína favorita: Shamira (A Batalha do Apocalispe, Eduardo Spohr)

Mocinho favorito: Liam (I Never Be Good Enough, Vicky Doretto)

Quote favorito: "Como eu ia enfrentar isso? Aquele era um estado de coisas muito triste, mas a vida era assim mesmo, em todo raio de esperança aparecia uma nuvem, e cada fragmento de felicidade era pago com a dor de alguém." (Casório?! , Maryan Keyes)

Melhor resenha: (eu mesma não fiz nenhuma, mas li algumas e fiquei com muita vontade de certos livros) Água para Elefantes, Sara Gruen.

Eu quero de presente...Desculpa, quero Me Casar Contigo, Federico Moccia


Regras:
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Vou nessa...
Retalhos
Quero a Fome
Mulheres (Im)possíveis
Tathy Panziera

Quem mais quiser responder os favoritos, sinta-se à vontade e não esqueça de me avisar, que eu quero ler as respostas...