28 de julho de 2009

Desculpas

The Killers - Mr. Brightside



Ela era adorável, mas ele não deixava de estar confuso.
- Martin? – Era Charles que entrava no quarto.
- Hmm? – o irmão mais velho respondeu.
- Eric está lá em baixo.
Ao perceber que não houve resposta, o caçula acrescentou:
- No jardim.
Depois de refletir um segundo, Martin foi até lá. Anunciou sua chegada dizendo:
- Achei que não queria me ver nunca mais...
O amigo, que estava andando distraidamente e a passos moles de uma lado para outro, virou-se para olhar. Usava uma pólo vermelha-alaranjada já um pouco surrada e jeans não muito novos também. Estava diferente, não apenas nas roupas. Havia algo no olhar. O quê?
- Achei que você tivesse notado que foi só força de expressão – respondeu por fim.
- O que você quer? – perguntou Martin.
- Quero ouvir suas desculpas.
- Minhas desculpas?
- Você não foi muito gentil da última vez.
- Você também não foi.
- Não, Martin, ninguém consegue ser mais rude do que você. Está me devendo desculpas.
- Ah, então a questão é essa? Quem foi mais mal-educado?
Eric deu um fraco riso incrédulo.
- Você não vai mesmo ceder?
- Eu nunca cedo, não primeiro. – Respondeu Martin.
- Incrível! Quando é que você vai pegar esse orgulho e enfiar n... Aff! - Ele mesmo se interrompeu. Depois se recompôs: - Olha, seja como for, o jantar da minha mãe ainda está de pé e quando você cair na real venha pegar o convite comigo.
Depois de dizer essas palavras, ia saindo. Martin foi atrás:
- Como assim depois que eu cair na real? E se dessa vez for eu que não quiser ver você nunca mais?
- Força de expressão?
- Não. – Ele se demorou na palavra, em tom quase zombeteiro.
Eles pararam frente a frente, se olhando. Eric apertou os olhos e depois disse, quase com um sorriso malicioso:
- Bom então, só Kevin e Charles estarão convidados.
- Isso é exclusão – a indignação era fingida. - Pensei que fossemos amigos.
- Nós não tínhamos... rompido? – Eric fez uma careta com a palavra; quis rir.
Martin também quis rir, entendo o implícito ali. Revirou os olhos e olhou inconscientemente para os lados antes de responder:
- Não. Hmm, não exatamente. Amigos brigam certo?
- Ahã... – a resposta desnecessária era quase inaudível.
Eric inclinou um pouco a cabeça para o lado, espremeu mais os olhos. Estava feliz. Enfim, estavam fazendo as pazes. Se aquela era a maneira de Martin pedir as malditas desculpas, tudo bem.
Eles estavam mais perto um do outro. Quando haviam se aproximado?
- Vamos dar uma trégua, tá bem? – sugeriu Martin.
- OK.
Momentos em silêncio pareceram uma eternidade. Mas nada constrangedor. Por fim, Eric tirou um pequeno envelope gelo do bolso traseiro e entregou ao amigo.
- Ei, meu nome já estava aqui de qualquer maneira. – E fingindo indignação novamente: - Você me usou!
O tom brincalhão voltou à tona. Estava tudo realmente bem então.
Eles riram.
- Como será que estão as coisas no café? – Eric fez uma sugestão implícita.
- Só vou deixar o convite lá dentro. Charles estava morrendo de medo de não ser convidado e perder toda aquela comida deliciosa!
Martin abriu a porta da frente e mostrou o pequeno convite ao caçula, que estava próximo à porta da biblioteca na expectativa. Depois o colocou sobre a mesinha mais próxima sem dizer palavra, apenas com um sorrisinho torto. Saiu antes que Charles viesse puxar papo. Tudo bem. O caçula não se importou. Ficou feliz pelo convite e isso bastava.