20 de março de 2008

Adornos

Acabei de fazer uma prova de matemáticas às pressas, o tempo estava na eminência de acabar.
Ainda assim, tive que esperar um pouco o tumulto acabar para sair, não gosto de tumultos. Nossa! Minha perna começou a puxar de um jeito que eu achei que ia cair no meio da rua. Acho que foi algum nervo. Continuei indo na direção da praça, meio que mancando. Como era véspera de feriado ontem, as costumeiras barraquinhas estavam lá, e com todo aquele vendo de quase meio-dia e o sol, aqueles adornos chamaram minha atenção, e acho que chamariam de qualquer um. Todos aqueles espelhos refletindo a luz e se esvoaçando, lembrando uma chuva de prata. São adornos de se pendurar em parede ou janela, como um sino-dos-ventos, mas não faz barulho porque é basicamente uma corrente de miçangas com cacos de espelhos em vários formatos pendurados, uma abaixo do outro com algum espaço. Eu não sei como isso chama, talvez nem tenha nome. Deve ter, mas eu não sei. Um dia eu descubro, mas por enquanto basta saber que ficou muito bem pendurado próximo ao portal da sala refletindo alguma luz. E eu gosto de seu reflexo, gostei desde o princípio, porque não é aquele reflexo em que a luz vem direto no espelho e reflete nos seus olhos aquela coisa que arde, é como se o espelho fosse até a luz. Ele reflete um lugar em que a luz, é isso, e só de maneira reflexiva, não incisiva. Havia tantas cores e tamanhos para escolher, mas depois de muito pensar, optei por um cor de ouro e com uma cordão meio bege no final. Parecia ideal. Nem muito chamativo como o vermelho, nem frio como o azul, nem enjoativo como o rosa-bebê, nem indiferente como o branco, nem agradável demais como o verde claro. Na dose exata, sabe. Esse tem espelhos tem forma de losangos e uma enorme estrela quase no topo. Lembra uma rosa-dos-ventos e é linda, algumas de suas pontas tem uma cobertura de neon. Pode ser que se formem prismas se algum sol bater lá, mas pra isso, sim, é preciso aquela luz incisiva, mas o resultado é como vários pedaços de arco-íris e disso eu gosto. Cresci tanto com eles...
Bom, almoço. Não gosto muito de comida de restaurante. Comi tanto durante quase um ano todo que enjoei. Mesmo que você mude de restaurante, a comida parece sempre a mesma. Feita aos montes por alguém que você não sabe quem é, e essa pessoa também não sabe quem vai comer aquele alimento. É feita com um tipo de tempero que nem todo mundo gosta e cheira indiferença. Ou está pelando por cima daquelas lataria com água fervendo ou está fria e dura. Como disse, já comi dela por muito tempo. Remetem-me a tempos bons e ruins, a um misto de coisas e acontecimentos que eu não sei caracterizar, mas pelo menos haviam acontecimentos. Eram típicos dessa vida urbana, com os prédios cinzas, os carros passando la embaixo, amanhecendo, entardecendo, anoitecendo naquela frenética pressa da cidade, e em toda essa pressa entram os almoços, mas também os encontros às pressas, uma dose de stress, de cabelos mais oleosos por ficar mais tempo em um ambiente fechado, de tempo jogado fora com conversas fúteis, de música, urbana, implícita, mas música, de um odor desagradável, ao qual você acaba se acostumando.
Voltando àgora, como preferi não ir ao restaurante, optei por uma pizza individual. Me arrastei com minha fome de horas e minha perna repuxando, passei em frente de pessoas, de esperanças passadas, de... posso chamar de sonhos? Bom, de uma experiência que poderia ter sido, mas não foi e não sei se um dia chegará a ser. Por fim, cheguei ao lugar onde eu só tinha ouvido falar até o momento. Não costume fazer pizza na hora do almoço, e então tive que me arrastar mais ainda, passando por flores, jardins, mais pessoas, mais sonhos, e enganos, e acabei vindo parar perto de casa. Ansiava por qualquer coisa, minha perna já estava esquecida. Algo instantâneo, era disso que eu precisava. Rápido, bom, e venenoso. Era ontem o dia! Não havia nada disso nas prateleiras. Fui obrigada a andar mais ainda, realmente me arrastando. Finalmente, cheguei a um lugar onde... bom, lá estava! Aleluia! Pra completar, um picolé de avelã e chocolate e mais velocidade pra vir pra casa e logo colocar aquele sanduíche numa invenção muito prática para mim: o microondas! E finalmente, acabar com minha fome até o final da tarde.

E estou vendo outro tipo de veneno começar a se alastrar...