15 de fevereiro de 2012

Mudança: Tudo novo de novo

Começou num sábado e num sábado terminou. Vi a primeira claridade do dia brotar no horizonte com um misto de esperança, um vento frio anormal para os últimos dias e chuva, chuva fina, que eu rezava para parar. Além do dia da semana em comum com a última vez, continuamos fadadas a mais algumas coincidências: " Temos gás, mas eletricidade ainda não." Foram essas as palavras de Vianne naquele mesmo capítulo que transcrevi no último post. E as faço minhas. Sim, caros amigos, passamos o final de semana sem luz no novo apartamento. Mas apesar desse tipo de dificuldade, a mudança correu tranquila, e essa é realmente a palavra que melhor a define. O motorista do caminhão é um homem de poucas palavras, produtivo nas suas atitudes ritmadas, assim como seus ajudantes. Contidos, calmos, experientes, cuidadosos com nossos sonhos e lembranças, embalando-os em cobertores e acomodando-os da melhor maneira possivel, lendo as indicações nas caixas, sem nada jogar. Dessa vez não houve pressa (e parece que justamente por isso tudo saiu mais rápido ainda), não houve aquela surpresa ruim, calor, churrasco, cerveja, música, baixaria; não houve aquele constrangimento de coisa errada, aquela sensação de erro, de abandono de lar. Dessa vez nossos pertences não vêm carregado com aquela imagem da casa de anos, e sim com uma sensação de alívio.
Olho para os cômodos vazios pelo o que penso ser a última vez, trancamos tudo e partimos, deixando para trás umas últimas coisas para buscar depois. Vamos embora bem a tempo, antes que toda a agitação de comércio comece. E ao empilhar caixas e sacos neste apartamento, ele já vai adquirindo nossa cara, basta olhar os móveis posicionados no meio da bagunça. O sofá azul e o hack de jatobá. O contraste com as paredes amarelas é ótimo, mas melhor ainda o ambiente do meu novo quarto. A cerejeira dos móveis cria perfeita harmonia com o entorno, e no outro canto a mesa mogno montada em L novamente me lembra aqueles meses de abril e maio, um romance italiano, reforma e expectativa.
A energia, a atmosfera, a impressão, esse ar, isso que sinto, não importa o nome, é bom. É acolhedor, aconchegante, tem um quê de lar, de Chocolat; o ambiente que eu queria. E eu tenho a plena certeza de que não estarei desamparada. Damos nosso jeito para contornar alguns problemas técnicos, como a falta de luz, mas a paz reina, a alegria, e vale frisar, o alívio.
Eu olho pela janela e vejo um céu azul estático, como numa pintura. As casas de um bairro nobre num morro gigante. Do outro lado, uma das avenidas principais da cidade, inúmeras pontes, uma igreja barroca contrastando com os sobrados e comércio. Palmeiras, enormes. Posso me debruçar na janela e olhar por quanto tempo quiser. Aqui, podemos abrir as janelas da frente. Aqui, no nosso novo lar. Estamos prontas para começar tudo novo de novo.