29 de agosto de 2011

From heart to heaven


Cansei de copiar e colar. Rascunhar do Word e colar aqui. A vida não tem rascunhos, os escritos sobre ela precisam ter? Claro que a gente tenta planejar a vida, organizar alguma coisa para o futuro. Aí vem a vida e mostra a incerteza sobre a qual a gente caminha: leva alguém querido embora. 
E eu nem tinha muita noção de futuro na verdade quando aconteceu. Seis anos atrás. Muita coisa  mudou. Para começar, nem estamos mais naquela mesma casa. Aquela na qual eu entrava e andava pelos cômodos sentindo sua ausência. Aquela na qual eu chorei muito e lamentei sua falta, sem conseguir acreditar. Aquela em que eu penteei seus cabelos que voltaram a crescer, sob o sol que entrava pela janela na hora do almoço. Aquela na qual você me criou, mimando, dando presentes, contando histórias da sua infância (ah, minhas preferidas!)... 
Fiquei surpresa quando, mesmo depois de alguns anos, me peguei com os olhos cheios de lágrimas ao falar de você. Achei que já tivesse "superado". E então eu vi como você foi importante na minha vida. Por sua presença, claro, por me levar para o trabalho com você (eu adorava), e também pelo modo como me influenciou. Crenças, medos, comportamento. Nem tudo eu agradeço por ter herdado de você, mas outras coisas eu agradeço. Você trouxe à tona o misto que me deixa em dúvida entre a realidade e a magia, a música que libertou minha imaginação, um outro ângulo de ver a vida. Você foi guerreira para mim, superou muitas dificuldades sozinha e eu, agora que entendo, não culpo seu jeito defensivo de ser. Vejo amuitas de suas atitudes em minha mãe e desejo então ter menos a passividade que tanto me incomoda em determinadas situações. Esse é um bom aspecto que eu trocaria por outros  que vieram nos genes e na criação... Não quero esperar um erro feio demais para ganhar essa disposição. Ah, vó, eu te admiro, e lamento não ter dito isso. Não acho que a forma como você encarou sua vida foi a melhor (nas minhas precárias condições de julgar o que é melhor na vida), mas você foi forte até o fim e é essa força que marca a imagem que eu tenho de você.
Às vezes eu me pego imaginando como seria te ter por perto agora. Muita coisa seria diferente. E será que você seria minha conselheira? Será que riríamos juntas? Será que eu teria menos preocupação com o futuro? Será que você teria orgulho de mim hoje? Gostaria dos meus amigos? Ainda passaria tardes inteiras conversando na sala com Dona Jô? Aposto que se você estive aqui eu iria para casa todo o fim de semana... 
Seu túmulo permanece cinza e empoeirado. Desculpe por não visitá-la regularmente e manter seu espaço menos manchado de vasos de flores. Foi com você que eu aprendi a valorizar tanto o que é material, embora eu acredite que esse não tenha sido o aprendizado que você queria me passar. E foi na sua ausência que eu aprendi que o que importa está no coração e não nas mãos. E só me dou conta disso tanto tempo depois... Queria agradecer pelas boas e más lições. O que é bom eu tento fazer durar, o que é inadequado eu tento modelar. Obrigada por cuidar de mim, e mais uma vez, me perdoe...