24 de dezembro de 2010

Natal Infernal

O que eu preciso não são exatamente idéias, é tempo. Mães não deixam de ser mulheres, e esse foi o mau da minha mãe. O mundo parou quando nasci, ela esperou pelo pai por anos... Eu não queria presenciar essa melancolia, ter esse clima tenso que pesa minha cabeça, mas é essa verdade: o ânimo aqui é zero. A parte mais indesejada da família se convida para o Natal e a hipocrisia faz com que a gente finja que está tudo bem, mas não, essa não é a verdade. Antes algumas verdades tivessem sido ditas e a mágoa fosse grande na hora do que ter que chegar até aqui e engolir sapos, e eu inerte. Sem palpites ferinos a dar porque tenho dó, porque minha mãe é alguém que se sacrifica tanto pelos outros e eu nem sei como dizer a ela que esse é o pior caminho a se seguir.
Ela tem várias dores que só dizem respeito a ela, mas eu as tomo, mesmo assim, mesmo sem a intenção. Não aceito sem dor e alguma atitude ver alguém que eu amo sofrer. E no fim das contas é isso: família e complexidade. Não é fácil nos manter unidos por laços de obrigação com pessoas com as quais não temos afinidade. Também não deve ser fácil querer criar esses laços e não ser correspondida, como aconteceu com ela. Seria muito mais fácil se tudo fosse visto de forma mais simples e verdadeira, sem que tentássemos mascarar sentimentos para fingir uma boa convivência.
Toda a chamada “magia do Natal” que eu pude quase respirar ontem pela manhã se foi. Não resta nada hoje, apenas um dia estranho e amorfo, opaco, abafado, inerte. O dia é tudo isso, eu sou tudo isso, nós somos tudo isso: esse nada que espera, espera, espera...


Apesar de muitas famílias enfrentarem problemas parecidos (e mesmo para as que não enfrentam), eu desejo um Feliz Natal a todos, repleto de sinceridade, esperança e felicidade. Porque mesmo que para cada pessoa esta data tenha um significado diferente, somos movidos por sentimentos e se não houver verdade neles acho que todo o resto perde o propósito...