5 de dezembro de 2009

Calvin + Ensaio

Ler ouvindo: Talk - Coldplay

Só para compensar a tirinha sem graça do post passado (à época parecia engraçada...), olha o que eu achei:
a)


b)

Adoro esses dois. Para quem quiser ler mais: http://depositodocalvin.blogspot.com/

Bom, e quanto ao resto, é só um ensaio. Você só vem quando eu estou doente...

"Engraçado como certas coisas acontecem quando a gente menos espera, e como as pessoas que a gente menos imagina marcam nossas vidas nas circunstâncias mais improváveis."

Entrei naquele hotel procurando uma resposta, qualquer fim para aquela situação ridícula de “meu pai tem uma amante”. A verdade é que queria também dar um fim na minha própria vida. Andaria com a mesma determinação para um precipício se houvesse um adiante. As coisas não andavam justas para mim.
Estava na recepção quando aconteceu. Claro que percebi uma música quando entrei, mas pensei ser um som ambiente ou qualquer outra coisa. Mas só quando me atentei às notas é que percebi que era real. Aquele som de piano invadindo meus sentidos à força e me tranqüilizando, contra a minha vontade, intrigando-me, fazendo com que eu me desviasse. Pode parecer ridículo, mas parecia me chamar. E eu a segui.
Levou-me a outro salão, onde tudo parecia dourado. Cortinas, paredes, o tapete cor de caramelo com desenhos harmônicos. Até as poltronas pouco ocupadas. Um mundo à parte. O sol batendo inclinadamente contra as cortinas fechadas parecia ser o responsável por esse efeito. E só se destacavam ali o piano, preto, e ele, o pianista, de costas para mim.
Atemporal. Fiquei parada observando-o por um tempo indeterminado. Para mim, pareceu uma eternidade, a melhor eternidade que eu já experimentara. Então, finalmente, ele se virou um pouco no seu banquinho, ficando levemente de perfil, os cabelos dourados destacando-se de uma maneira perfeita. Ele inspirou profundamente enquanto tocava as teclas do piano produzindo a melodia que não era nem triste nem feliz, nem doce nem nada. Era apenas o puro som que só o piano consegue produzir.
Fiquei, mas pela música. Sentei em uma das poltronas, com a mente já vazia, só aproveitando aquele momento. E observando à volta aquela atmosfera tão diferente do que eu sentia há minutos atrás. Uma grávida lia um livro, uma criança brincava fazendo ruídos baixos, um velho cochilava. Havia um homem em seu notebook também, algumas pessoas subiam e desciam pelo elevador daquele cômodo. Uma campainha estridente tocou na recepção, mas nada parecia perturbar o pianista.
Até que meu celular tocou (...) e, para a minha surpresa, ele parou de tocar. Depois olhou na minha direção com uma expressão que eu não soube definir, só sei que senti o sangue fluindo para o meu rosto. Que vergonha! Ele não parecia... bravo, mas é claro que fiquei incomodada. Todos perceberam que ele parou por minha causa. Quando finalmente achei o celular na bolsa, saí dali para atender. Passando pela grávida, que me encarava, pedi desculpas rapidamente, sem graça.
Era minha mãe.
- Não, mãe, já estou no hotel, e não vou voltar.
- Esqueça isso, por favor – a agonia dela acertou tão fundo meu coração que por um momento pensei em desistir.
- É o melhor a fazer. Confie em mim...
- Vamos repassar isso com calma...
- Não, mãe. A vida inteira foi assim – e enquanto dizia, voltava-me para a “sala dourada”, na direção do elevador – Está na hora de alguém além de nós assumir alguma responsabilidade. Já estou subindo.
Apertei o botão do elevador antes mesmo de conseguir chegar perto o suficiente para não parecer uma desesperada. E as portas se abriram no mesmo instante. Entrei e ao me virar percebi que ele olhava na minha direção. Balancei o celular de leve e pedi um “Desculpa” mudo, do tipo leitura labial (não intencional; o som que não quis sair). Ele pareceu responder um “Sem problemas” da mesma forma e dar um sorriso leve, e só então recomeçar a tocar. E tudo isso num intervalo de abrir e fechar de portas de elevador.