25 de abril de 2012

Resiliência

Hoje foi o último dia de aula de 31 anos de carreira. E ela nem é/foi uma das minhas professoras preferidas, pelo contrário, mas nos últimos dias me passou uma lição que deu um rumo diferente para a minha vida, mudou meu jeito de ver. Foi naquele dia de sol intenso e início de ventos frios, começo do mês. Acho que foi naquele dia. Ela aplicou na turma uma daquelas técnicas de relaxamento: ajeite-se na carteira da forma mais confortável possível (isso não é muito fácil, as cadeiras não ajudam, mas enfim), tire tudo que te encomoda, óculos, relógio, tênis, e feche os olhos. Concentre toda a tensão no nariz, ou seja, na respiração. Imagine o ar invadindo cada parte do seu corpo, dos pés à cabeça, relaxando todos os músculos. (Embora eu goste dessas técnicas de relaxamento, na hora achei tudo muito a cara dela, do jeito de falar às instruções, porque de uma pessoa que acredita em abdução por et's podemos, esperar de tudo.) Em seguida, ela pediu para imaginarmos qualquer coisa. Fiquei muito feliz, porque finalmente minhas idealizações românticas tinham encontrado um lugar onde fossem permitidas. Ela havia dito qualquer coisa, e eu levei ao pé da letra. Até que ela foi mais específica: imagine que você é uma planta. Hein?! Planta? Muito longe do que eu tinha em mente, mas vamos lá.
Planta. Não queria ser uma planta nesse momento, isso é tão irreal perto de tudo o que eu estava imaginando antes. Não posso ser uma planta de verdade. Então sou uma planta de um verde bem escuro, mas não exatamente real, tenho um aspecto de animação, entende? Olho para os meus braços e eles são caules grossos e com algumas folhas, tudo muito verde, não muito real, embora nítido. Não tenho flores e estou em um vaso, em cima de uma mureta de pedra, numa rua perto de onde eu moro. As casas estão na minha frente, existe verde atrás de mim, mas no momento, não o vejo. Tem sol nesse dia. Não consigo me entregar muito ao pensamento.
Ao fim, voltamos aos poucos dessa viagem, como ela mesma chamou. Ela fez algumas perguntas, como: quais de nós estávamos dentro de casa, se alguém cuidava de nós, se havia mais plantas em volta... Alguns contaram suas experiências como planta. Havia rosas, árvores, girassois. Não podia entender meu eu planta, eu não conseguia explicá-lo a mim mesma. Por que não fui uma rosa, que adoro tanto? Por que esse aspecto tão diferente da minha planta? Dúvidas que ficaram para mim e aos poucos eu venho encontrando respostas possíveis. O importante foi o que ela disse em seguida: nos somos agora essa planta que imaginamos. No momento, somos assim.
Risadas, compreensão por parte de alguns, várias reações. Uma colega se imaginou como um girassol num lote descampado. O que isso queria dizer então? Solidão? Poder? Sobrevivência, força? E então, a lição que eu pretendo nunca esquecer: uma situação é aquilo que deixamos ela ser para nós. Algo só nos machuca de deixarmos nos machucar, se nos pertimos ser machucados. Finalmente vi a resiliência mais acessível na prática. Porque, de alguma forma, aquelas palavras já me tinham sido ditas, mas daquela forma, foi tudo tão esclarecedor. E desse dia em diante eu me vi mais segura de confiar em mim mesma, acreditar sou capaz.

Posso não ter aprendido nada da matéria com ela, mas essa lição fica para vida, junto com esse vídeo que ela passou hoje, e a dica final: fazer com o coração, e tudo dará certo.