23 de março de 2012

Standby

Sinto falta dos lugares. Os lugares que fizeram parte da minha vida, os lugares em que construí minha identidade. Não vou ser piegas e dizer que gostaria de voltar no tempo; apenas gostaria de estar de novo, poder andar novamente, tocar as paredes e sentir o aconchego de todos esse lugares que foram meus lares de alguma forma. Minha (antiga) casa, que não existe mais, minha escola, aquele prédio, o salão e aquelas árvores, aquela cidade, aquele vento, meus amigos... Aquela época em que a ilusão era vida. Aquele estado de felicidade era bom para mim, eu não sei lidar com um mundo onde não existe roman au l'eau de rose. Acreditar no encanto, extrair esperança disso, eu sempre vivi assim.
Chegar em casa depois de caminhar, o céu rosado ao crepúsculo, olhar para o prédio ao longe, fazer um pedido para a primeira estrela no céu e entrar. O ar morno, a certeza do que viria em seguida. Filmes, livros, computador, mil histórias. Minha vida parada e feliz. Isso bastava para mim. Noites frias, manhãs também, com o sol radiante entrando pelas grandes janelas.
E aquelas pessoas que eu via todo o dia da semana, aquela escada em frente à secretaria, nossas conversas descompromissadas e os risos durante as refeições. Somos quase estranhos agora. Olhar a rua pela janela de vidro querendo ouvir o som que havia lá fora. Tão logo fiquei livre disso e já senti falta. Ainda sinto.
Os jogos, flertes, o ônibus nas tardes de quinta-feira. As fantasias que surgiam na minha cabeça, o músico e a garota. E tudo simplesmente acabou em chuva fria, num dia solitário. Há muito tempo.
E há tanto mais a ser dito, tantas lembranças, tão arrebatadoras agora. Agora que eu olho em volta e penso como vim parar aqui. Essas mudanças de um lado para o outro, e essas mudanças dentro de mim também. A pessoa que nunca me abandona e pode me consolar, para ela eu tenho que parecer forte, para que ela não fique perdida assim também, se é que já não está. Espero que não esteja... E nesse momento de angústia, eu quero esses lugares de volta. Se não posso confiar nas pessoas, superestimá-las, pelo menos posso recorrer a esses lugares. Inanimados, até vocês vão desmanchar minha ilusão? Eu era feliz. E eu sabia disso. Como deixei escapar?
E agora, nessas tardes quentes sobre o asfalto, os carros e motos que passam por todos os lugares, tantas pedras para tropeçar, aqui não há lugar para o tom róseo que a vida costumava ter. Aqui o ritmo é diferente. Aqui é tudo mais cru. Áspero. Tento encontrar o que me faz feliz nessa nova realidade. Existem alguns momentos de ouro, mas por agora, estou mais presa à nostalgia do que nunca. Ainda não acredito nessas verdades que se apresentam, como se pudesse acordar a qualquer momento e voltar a viver a vida que sempre conheci. Estou em standby, reunindo forças.