14 de maio de 2011

La fin

Retiro a fita roxa da última página do livro depois de tê-lo fechado. Roxo faz um contraste não muito belo com o marrom do livro, mas é exótico, traz alguma coisa de mágico, assim como Chocolat. Foi este aspecto, afinal, que me encantou desde o princípio.
Terminei um pouco tarde este ano. Quando os ares mornos de outono já se foram. É sim um prévio verão antes que meados de maio chegue e o inverno comece a mostrar-se. Muito latente em casa, quando olho pela janela e vejo o céu de um azul intenso e só. Ou mesmo quando há nuvens, vai além do que pode ser visto. É a solidão que eu sinto sentada à mesa de madeira escura, diante do computador sem objetivo, é o vagar de um lado a outro da casa, é o vento gelado que bate na face quando estou em companhia, mas sozinha. É ver prédios e casas por sobre o muro e continuar aqui em baixo olhando, ou distante, mesmo diante do muro, só olhando. É uma névoa branca que me acompanha onde quer que eu esteja. Mesca os horizontes que um dia foram outros. Agora são apáticos. E por um momento eu me vejo esperando agosto ansiosamente para que isso passe. Vejo-me necessitada de amigos que me façam virar as costas para essa sensação, novidades que tragam emoções mais quentes à tona.
Procuro me rodear de vermelho, amarelo e laranja para me sentir mais alegre. Fico ao sol em busca de calor, pois onde ele nao está o frio emana de mim mesma.
Sou toda nostálgica. Olho o chão da cozinha e a maneira como a luz se reflete nele e lembro de anos atrás. A pequena agitação do centro da cidade, pessoas para conversar em lojas de onde não dá para ver o sol. Éramos uma pequena sociedade naquele condomínio. Aquilo acabou. Hoje entro lá e já não é mais tão claro, embora tenha sido adornado. É um lugar estranho, com pessoas estranhas, mas por alguns instantes, aqui em casa, eu queria tanto voltar a ter tudo aquilo à minha volta, da maneira que era antes. Foram uma espécie de tempos de auge, convívio com pessoas, novo sentido de vida para ela, talvez para mim também. 
E acabar um livro é assim, querer voltar depois de ter passado tanto tempo naquela mesma atmosfera. É como não pertencer a lugar nenhum, nem lá nem cá, nem nas páginas nem na realidade. É como ter os ventos mudando e não saber o que fazer.