19 de março de 2011

Primeiras impressões

Daqui não dá para ver o céu. Mas, azul ou não, estar nessa cidade já não é mais encantador como da primeira vez. Eu só acordo no final de semana querendo voltar para casa. Esperando acordar no meu quarto e percebo, infelizmente, que continuo na mesma cama estreita em que adormeci e tive sonhos confusos. Acordo com uma saudade imensa daqueles que eu amo e não tenho ninguém comigo. Quero dormir mais, pois sei que tenho sono, meus olhos pesam, mas os barulhos externos não deixam e eu opto por levantar. Preparo meu próprio café da manhã na cozinha comum e espero que ninguém apareça. Não tenho vontade de conversar com ninguém, não me sinto bem falando. É como se as palavras ou o tom da minha voz pudessem denunciar o desconforto que eu sinto ou eu não confiasse em mim mesma e pudesse gritar a qualquer momento que quero voltar para minha vida de antes.
Mudar não é fácil. Essas novas etapas que a gente tem que encarar não são vividas facilmente, principalmente para quem não se adapta rápido. E por mais estranho que pareça, experiências anteriores me prejudicam, já que tenho com o que comparar minha vida aqui. Já passei por isso de entrar numa faculdade antes, morar em uma pensão em uma cidade diferente, e foi tudo tão mais fácil, eu gostava bem mais. Era mais feliz. Vim para a capital esperando encontrar algo parecido, esperando que eu fosse capaz de lidar com essa transição de forma madura. A verdade é que não sou (ou pelo menos não estou) madura o suficiente para lidar com isso sem chorar, sem odiar toda essa situação. São pequenas coisas que não são fáceis para mim e só me fazem querer estar em lugares melhores que eu sei que existem por aí.
Ser maior de idade não me torna mais adulta. Um ano a mais na conta de idade não muda o que se tem na cabeça ou me torna menos vulnerável a certas coisas. Não me vejo daqui dois anos e meio. Não me enxergo aqui, não ainda, pelo menos. Saber que eu tenho a opção de voltar atrás e resgatar uma vaga que deixei solta por aí me faz ter muita vontade de seguir essa idéia louca, mesmo que isso me custe mais meio ano da minha vida. Agora até parece que todo aquele esforço para estar em uma faculdade foi pouco. Olhando as garotas que estudam tanto no pré-vestibular eu tento me lembrar do quanto sou sortuda. Só é um pouco difícil encaixar a idéia de sorte com tudo que o nome de uma grande faculdade carrega.
O que me mantém aqui também são as lembranças da primeira vez em que estive na cidade. Tudo se apresentou de forma tão diferente, tão bonito, acolhedor, com tantas possibilidades de crescimento. Ah, essa vontade de ser grande, olha aonde ela acabou me trazendo... Espero que o “me acostumar” seja, não encarar como agora, de má vontade, tudo ao meu redor e mesmo assim seguir em frente, mas sim voltar a enxergar aquilo que meus olhos viram e meu coração sentiu da primeira vez.