29 de março de 2009

Dedicatória

Martin (...) foi um grande personagem. Não foi sábio, nem generoso ou fiel. Exímio tocador de guitarra, o que mostra que a música não escolhe a quem dá seus dons... Reconheço que sua personalidade escapou de controle e que talvez ele tenha sido o mais perverso de todos. (Perverso é um pouco forte?) Na verdade, uma mistura de todos seus "eus", e fusões confusas assim são mesmo difíceis de manter sob controle.
Martin acabou por se tornar um vampiro cruel, sanguinário, ameaçador, chantagista, egoísta, e por isso, forte. Um humano ambicioso, cínico, distante e superficial. Filho amargurado, inconseqüente e abusado. Namorado perigoso e ciumento. Amigo interesseiro e odiável.
Sob esses aspectos, meu protagonista pode ser considerado mau. O vilão, não o herói; a ameaça, não a vítima; alguém que não trouxe soluções, só problemas. Errou, muito, e seu maior erro foi confiar incondicionalmente nas pessoas erradas. Mas ele foi bem enganado (claro que soube enganar também), pelas artimanhas do coração e por vinganças calculadas. Alguns mal-entendidos nem foram propositais (as pessoas também erraram com ele); outros foram completamente intencionais.
Martin sofreu e fez muitos sofrerem. Machucou e saiu extremamente machucado, tanto física como emocionalmente, e essas últimas feridas são as que mais doem - mesmo que o tempo passe, restam cicatrizes, ficam seqüelas.
Mesmo depois de toda a dor, ele foi forte. Forte por ter coragem para recomeçar, por querer corrigir seus erros e estar disposto a ser uma pessoa melhor, e feliz. O
grand finale seria a infelicidade, a punição perpétua ou a morte. Algo assim, tão desgraçado quanto o que ele fez. Mas esse não era o meu grand finale, não o que eu queria para ele, nem para mim... Martin usou pessoas, foi desumano e calculista. Perigoso, e mais perigoso ainda por ser tentador. Mas antes de vampiro, ele era humano. Não merecia um final triste. Ele aprendeu, mesmo que isso tenha custado um alto preço.
Crescemos juntos e de alguma forma compartilhamos experiências, ganhamos identidade, tivemos sonhos quebrados, outros alimentados. Ele não era mau. Claro que também não era um (bom) exemplo. O que fez de Martin humano antes de tudo, não era ser feito somente de luz ou somente de trevas. Foi ter ambos dentro de si. Em guerra, mas estavam lá. Não há bem e mal. As pessoas mudam, podem refazer suas escolhas, agir por emoção ou por razão. Podem recomeçar. Ambição não quer dizer maldade, e ser confiável não quer dizer que alguém é bom. Não são essas qualidade que determinam como uma pessoa é, são suas atitudes. E essa classificação vai além dos estereótipos de bem e mal.
E então, Martin foi meu maior personagem. Vai ficar para sempre na memória... Um grande vampiro, com certeza, mas humano maior ainda, e eu o admiro muito por isso. A batalha mais difícil é a interna e ele ainda saiu vencedor. Seria clássico se ele fosse a chave de ouro, mas ainda há muitas outras faces dele para eu encontrar. "Esse não é o fim. É o começo de uma nova vida".