20 de junho de 2012

Leitura de verão


Daqui
Devo esse post há muito tempo. Quem clicar na tag chocolate vai entender. Pois falar em livro e em verão só me faz pensar na minha leitura preferida: Chocolat. Sinopses são achadas em qualquer lugar, mas o encanto desse livro não pode ser transmitido só nisso. A razão pela qual o leio todo ano, e sempre no fim do ano, nos ares mornos do natal, de esperança e renovação, seguindo para janeiro, com os mesmos bons fluidos, misteriosos e gostosos pelo o que está por vir. Eu queria explicar um pouco disso aqui. E sei que os porquês não vão se esgotar, mas vale à pena elucidar o que puder.
A primeira leitura foi feita em tardes ensolaradas, degustando muitas carolinas, éclairs, ou como queiram chamar. E me lembro que o que mais me encantava no livro era a intuição certeira de Vianne, em descobrir o gosto das pessoas, em quase ler seus pensamentos. Decifrá-las, e se adaptar tão bem, fazer amigos tão bem... Tudo tão simples. Despojada e colorida. Parecia um tipo de mágica isso de enxergar dentro das pessoas, e uma mágica que facilitava tantas coisas. Desejei ser assim.
Lembro-me também que o que mais me irritava no livro era não saber como ler todas aquelas expressões em francês, nem saber o significado de alguns versos de música para dormir. E se eu não sei, se não entendo, vou tentar mudar isso. E essa foi a gota d’água para que eu me matriculasse no curso de francês naquele ano.
Mas acho que, do mais agradável ao mais irritante, em tantos sentidos, o livro me lembra minha avó. Não acho que tenha percebido isso logo de início, foi um conhecimento que veio gradualmente, em doses homeopáticas. Ora, o francês não era novidade na minha vida, embora eu não soubesse nem escrever beaucoup. Minha avó estudou em um colégio interno onde só se podia falar francês, e eu ficava encantada com isso, e queria extrair o máximo dela, sem compreender como era possível esquecer um idioma. E essa mesma avó colocou em dúvida para sempre a minha crença de que magia é coisa só de filmes. Ela também usava cartas, velas, incensos. Por que ela mentiria para a família sobre o que ela via? Não havia nenhum ganho com isso, ela não precisava disso para sobreviver, como muitos. E embora eu goste muito de ver para crer, tem sempre uma parte de mim que acredita na intuição, e Vianne com suas histórias, e principalmente com a história de sua mãe, me coloca isso de forma familiar, e depois de algum tempo, descobri de onde.
Reynaud, o padre, também narra a história em capítulos alternados. Sua visão é contrária à de Vianne em quase tudo, senão tudo. A crença em Deus contra a crença em mágica. É uma bela contradição, já enfrentada em algum momento por mim, que me pergunto por que não deixar tudo coexistir? Bem, quando as pessoas se tornam os próprios argumentos que elas defendem, fazem loucuras e até mesmo vão contra seus princípios. Acho que Reynaud representa toda a rigidez que já me foi imposta de alguma forma, e que ao invés de ir contra, eu absorvi. Representa toda a segurança que o comum e majoritário representa, toda a estabilidade a buscar, e todo o jeito “caxias” de ver o mundo, de seguir regras... Coisas que aprendi com minha avó, também. Talvez ele também seja um pouco da dúvida e egoísmo que todo mundo tem dentro de si.
De mais a mais, Armande Voisin. O que dizer? Essa ligação estranha que temos com algumas pessoas, parece que já as conhecemos desde sempre. E os ventos. Ah, os ventos, eu entendo. Não foi de primeira, mas depois de alguma leitura a mais, percebi que também sinto os ventos. Aquilo que parece que o momento, o lugar, o clima, nos diz. Aquilo que nos leva a fazer coisas ou a ir/querer estar em algum lugar específico ou de certa essência. Para mim os ventos são os ares, a atmosfera. É algo que o destino nos conta, talvez?
Contado em forma de diário, com datas e marcações, a escrita gostosa e fluída, nada amadora, as viagens ao redor do mundo, o ambiente acolhedor de uma chocolateria, mais o que já foi dito e o que não foi, tudo isso me encanta nesse livro. E podem acreditar, cada aspecto tem uma análise, tem um quê especial. Não é à toa que é a minha leitura preferida.
Experimentem.