29 de abril de 2011

Ciúme

“Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar” Sábias palavras de Rubem Alves. Se tentássemos colocar o pássaro em uma gaiola ficaria perdida a liberdade de ir embora. É tão triste ver um pássaro preso. Se fosse eu a prender, sentiria algum remorso. E ele, pássaro, tristeza por ser privado. Esse medo da perda é um tanto necessário, em pequena intensidade proporciona até certa emoção a mais à relação.
Mesmo com essa consciência, muitas pessoas aprisionam seus pássaros. Querem ter mais perto a pessoa amada e confundem o amar com poder possuir. O medo de o pássaro voar é mais conhecido por ciúmes. É natural em nós como vários outros sentimentos, como a raiva ou alegria.  Em outras palavras é uma “reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade." Complexa porque envolve um conjunto de sentimentos, reações físicas e comportamentos, como dor, raiva, inveja, humilhação; falta de ar, sudorese, aperto no peito, taquicardia; questionamento constante, ações agressivas (viva a Wikipérida!). Não é fácil lidar com algo assim, produzido por nós próprios. Não sabemos se nos engana ou não, se é mais uma idéia ou alguma “inspiração” que tem algo a dizer.
Alguns acreditam piamente que estão sendo traídos. “Para o ciumento, a fronteira entre imaginação, fantasia, crença e certeza se torna vaga e imprecisa, as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou delirantes.” É o ciúme patológico. O ciumento passa a ter atitudes de invasão da privacidade e até perseguição daquele de quem se sente ciúmes e da terceira pessoa (a que é motivo de todo esse tumulto).
São várias as histórias que ilustram os males do ciúme excessivo, como Otelo e Dom Casmurro. Fatores externos somados à nossa própria paranóia podem ser extremamente prejudiciais, mas é verdade que a maneira como interpretamos as coisas é a principal responsável por como e o quanto o ciúme se manifesta. Sabe-se que, além de estar relacionado com a falta de confiança no outro, está também ligado a que se tem de si próprio. A inveja é grande parceira do ciúme e ambos fazem com que a pessoa foque demais sua atenção nas outras pessoas e não em si em próprio. É uma revelação indireta de que a auto-estima precisa ser trabalhada. 
De qualquer maneira, na dose certa o ciúme tem seus benefícios. Ele é uma espécie de prova de amor, sim. Demonstrá-lo faz o companheiro se sentir valorizado. Lembra ao casal que um não deve considerar o outro definitivamente conquistado. Pode até ser considerado estimulante.
E como tudo em excesso faz mal, a falta também faz. A ausência total de ciúme é sinal de que alguma coisa está errada. É um sinal de não-amor. Significa que é hora de rever a relação. Como tudo na vida, o ideal é que haja um equilíbrio. Não é fácil, não temos uma balança interna nem podemos controlar nossos sentimentos, mas há maneiras de fazer com que eles não direcionem nossa vida de forma negativa, a começar por reconhecer defeitos e tentar fazer com que a vida não gire em torno de um único núcleo. Deixe o pássaro se sentir confortável no seu dedo e sinta-se assim você também.